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30 anos do Plano Brady

Luiz Carlos Bresser-Pereira

Nota no Facebook, 22.4.2019


Acabo de receber um e-mail de meu velho amigo, o embaixador do Brasil nos Estados Unidos, Sergio Amaral, que em junho deverá estar de volta. Conta-me ele que participou de um grande jantar em Washington em comemoração aos 30 anos do Plano Brady que pôs um fim a grande Crise da Dívida Externa dos anos 1980. Transcrevo parte de seu e-mail: "Caro Luiz Carlos

Lembrei-me de você na semana passada.

Fui convidado para um jantar de umas 120 pessoas no Council of the Americas. Era para comemorar os 30 anos do Plano Brady. Todo o mundo financeiro da época da dívida estava lá. Nicholas Brady, Paul Volcker, Warren Buffet, David Mulford, até o Kissinger com quem tive uma boa conversa. Entre os negociadores Angel Gurria, Daniel Marx e eu.

A comemoração era para os que conseguiram "salvar" o sistema financeiro. Merecia uma menção a você que foi quem seriamente levantou a necessidade de redução da dívida alguns anos antes através do mecanismo de securitização. Mais: alguns funcionários do Tesouro da época reconheceram que o James Baker, na conversa com você, havia reconhecido implicitamente a procedência da sua argumentação.

O problema é que na sua época não havia condições políticas para o reconhecimento da sua ideia. O Brady não teve a ideia, mas aproveitou as condições políticas mais favoráveis para lançar seu plano."
É bom receber um e-mail como esse. É uma boa lembrança de um grande momento em minha vida. Em 1987, quando fui Ministro da Fazenda, a Crise da Dívida Externa era um problema mundial e gravíssimo. Ninguém encontrava uma solução para ela. Até que o Roberto Giannetti da Fonseca soube e me informou que dez anos antes a cidade de Nova York havia quebrado, mas o problema fora resolvido com a securitização da dívida, ou seja, a transformação dos contratos de débito com os bancos em títulos (securities) negociadas no mercado com desconto. Decidi, então, fazer essa proposta de solução geral do problema da dívida, contei com o apoio do presidente José Sarney e com a colaboração de meu negociador da dívida, Fernão Bracher, obtive a assessoria de dois grandes bancos internacionais, e preparamos a proposta. Entretanto, o secretário do Tesouro, James Baker, mal assessorado e pressionado pelos bancos que não estavam entendendo a proposta, a recusou de uma forma pouco elegante. Os bancos comerciais, porém, logo perceberam que estava ali a solução para a crise, e passaram a apoiá-la. Dezoito meses depois, o novo secretário do Tesouro, Nicholas Brady, adotou ponto por ponto minha proposta. Escrevi essa história em um artigo publicado no Brazilian Journal of Political Economy, "A turning point in the Debt Crisis" (1995), que está disponível no site da revista e no meu site.